SOBRE A GRAMÁTICA TRADICIONALISTA, OU TRADICIONAL,
AINDA MAIS, CLÁSSICA.
Francisca Ayanny Pereira Costa¹
No início, muito
antes desta disciplina se chamar “Linguística”, os estudos voltados para a
linguagem não eram propriamente gramaticais. Vale lembrar que tais estudos têm
suas origens na Grécia Antiga, com os filósofos clássicos. Pode-se considerar
que o primeiro passo dado rumo aos debates propriamente linguísticos foi dado
por Platão, quando escreveu “Crátilo”, obra na qual ele começa a questionar a
gêneses da linguagem humana. A pergunta que permeia tal trabalho é se trataria
de um acontecimento natural ou seria convenção do homem. No trabalho, Platão se
convence de que originalmente a linguagem era natural, e com o passar do tempo,
em vista das influências dos meios e da reflexão sobre todas as coisas,
convencionou-se.
Outro filósofo
que voltou alguns de seus estudos para âmbito da linguagem foi Aristóteles. Diferentemente
de Platão, que mantinha as discussões no domínio ideológico, Aristóteles
trouxe-as para o campo do discurso. Este último estudou a construção do
pensamento. Para ele, os conceitos, referente à nossa percepção do mundo, são
palavras com significados próprios, os juízos são julgamentos formados a partir
dos conceitos e por fim o raciocínio, mantendo a mesma linha de pensamento, é a
união dos juízos.
Por estar
trabalhando com a classificação das palavras no latim, Aristóteles observava
cada termo de acordo com o seu significado, que posteriormente foram criadas
dois tipos gramáticas baseadas nesse modelo de trabalho. Como havia o desejo
mútuo de preservar a língua dos grandes escritores, isto é, o latim, as
primeiras gramáticas propriamente ditas foram baseadas no significado e na
pronúncia das palavras. Respectivamente, a primeira era para os falantes
aprenderem a norma culta da escrita latina, enquanto a segunda servia para
aqueles que queriam aprender a falar latim, mas não eram gregos. Mesmo com finalidades
diferentes, ambas as gramáticas eram tradicionais, pois visavam manter o latim
como língua primordial.
Dionísio da
Trassa, outro filósofo de trabalhos provavelmente posteriores aos de Aristóteles,
deu seguimento aos estudos do último, dando melhor forma. Percebeu-se, então,
que essa gramática iniciada por Aristóteles e continuada por Dionísio possuía
quatro importantes atributos. O primeiro refere-se a sua origem. Como já fora
mencionada, as primeiras discussões a respeito da linguagem partiram dos
filósofos, tal como a atitude de “montar” a primeira gramática. Assim posto,
consideramos que a gramática tradicional é filosófica.
Por Aristóteles
ainda ter mantido a associação da palavra com aquilo que ela representa no
mundo real, já pregado por Platão, dizemos que a gramática tradicional é
semântica. Isto é, ela primordialmente trabalha com os significados dos termos
usados. Para efeito de exemplo tem-se a definição de substantivo ensinada nas
escolas nas séries iniciais: a palavra que nomeia o ser. A criança deve
conhecer primeiramente o que são os seres para só então poder aplicar a ação de
nomeá-los, ou seja, ela deve ir ao mundo real para entender algo da linguagem.
Sabendo que essa
modelo de gramática trabalhará com os significados, seja para quem quer
escrever seja para quem quer falar. Era necessário criar-se um conjunto de
normas, regras, para que os falantes pudessem seguir a risca a fim de manter o
latim “intacto”. Tal como os médicos dizem aos seus pacientes que remédios
tomarem para se curarem de suas enfermidades, os filósofos impuseram que
“caminhos” as pessoas deveriam tomar caso quisessem se tornar verdadeiros
cidadãos romanos através da língua. Podemos concluir, por fim, que a gramática
tradicional também é prescritiva.
Quase como causa
direta das duas características mencionadas acima, semântica e prescritivista,
a gramática tradicional é, antes de tudo, universalista. Como já fora
explicitado, a ânsia dos estudiosos gregos da linguagem humana era de preservar
e de repassar a todos o latim usado pelos grandes escritores (aqui cito Homero,
Virgílio, entre outros), portanto, todos que quisessem falar de maneira culta,
deveriam se espelhar no latim, visto que era postulada como a língua perfeita
dentre todas. Regras gerais foram criadas para que servissem para todas as
outras línguas e eram pautadas no latim. Deste modo pode-se considerar que as
outras propriedades tradicionais da gramática, exceto a filosófica, existiram
em decorrência desse desejo de universalidade.
Com o advento da
modernidade, em que o sentimento de nacionalidade aflorava em cada país, as
línguas nacionais começaram a receber as atenções dos linguistas. O latim
começou a perder seu caráter universal a partir do momento em que os estudos se
voltavam para cada e toda manifestação da linguagem humana, independente da
língua ou do país. O desejo já não procurar a língua perfeita ou mais completa,
na verdade voltava-se para as descrições de cada particularidade das línguas.
Por finalmente a Linguística ter se firmado como ciência específica, as bases
teóricas das novas gramáticas eram baseadas na forma do enunciado, visto que Saussure,
estudioso linguista, sugerira que o objeto da Linguística deveria ser a língua,
ou seja, a forma da linguagem.
por NONA AY
Nona e Dom, a ideia de postar a história da Linguística aqui, no blog, foi muito boa. Assim, os alunos interessados nessa área da Letras podem ter mais uma fonte de pesquisa.
ResponderExcluirPARABÉNS... (by: Dhay)