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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Um pouco de Linguística para vocês

SOBRE A GRAMÁTICA TRADICIONALISTA, OU TRADICIONAL, AINDA MAIS, CLÁSSICA.

Francisca Ayanny Pereira Costa¹

No início, muito antes desta disciplina se chamar “Linguística”, os estudos voltados para a linguagem não eram propriamente gramaticais. Vale lembrar que tais estudos têm suas origens na Grécia Antiga, com os filósofos clássicos. Pode-se considerar que o primeiro passo dado rumo aos debates propriamente linguísticos foi dado por Platão, quando escreveu “Crátilo”, obra na qual ele começa a questionar a gêneses da linguagem humana. A pergunta que permeia tal trabalho é se trataria de um acontecimento natural ou seria convenção do homem. No trabalho, Platão se convence de que originalmente a linguagem era natural, e com o passar do tempo, em vista das influências dos meios e da reflexão sobre todas as coisas, convencionou-se.
Outro filósofo que voltou alguns de seus estudos para âmbito da linguagem foi Aristóteles. Diferentemente de Platão, que mantinha as discussões no domínio ideológico, Aristóteles trouxe-as para o campo do discurso. Este último estudou a construção do pensamento. Para ele, os conceitos, referente à nossa percepção do mundo, são palavras com significados próprios, os juízos são julgamentos formados a partir dos conceitos e por fim o raciocínio, mantendo a mesma linha de pensamento, é a união dos juízos.
Por estar trabalhando com a classificação das palavras no latim, Aristóteles observava cada termo de acordo com o seu significado, que posteriormente foram criadas dois tipos gramáticas baseadas nesse modelo de trabalho. Como havia o desejo mútuo de preservar a língua dos grandes escritores, isto é, o latim, as primeiras gramáticas propriamente ditas foram baseadas no significado e na pronúncia das palavras. Respectivamente, a primeira era para os falantes aprenderem a norma culta da escrita latina, enquanto a segunda servia para aqueles que queriam aprender a falar latim, mas não eram gregos. Mesmo com finalidades diferentes, ambas as gramáticas eram tradicionais, pois visavam manter o latim como língua primordial.
Dionísio da Trassa, outro filósofo de trabalhos provavelmente posteriores aos de Aristóteles, deu seguimento aos estudos do último, dando melhor forma. Percebeu-se, então, que essa gramática iniciada por Aristóteles e continuada por Dionísio possuía quatro importantes atributos. O primeiro refere-se a sua origem. Como já fora mencionada, as primeiras discussões a respeito da linguagem partiram dos filósofos, tal como a atitude de “montar” a primeira gramática. Assim posto, consideramos que a gramática tradicional é filosófica.
Por Aristóteles ainda ter mantido a associação da palavra com aquilo que ela representa no mundo real, já pregado por Platão, dizemos que a gramática tradicional é semântica. Isto é, ela primordialmente trabalha com os significados dos termos usados. Para efeito de exemplo tem-se a definição de substantivo ensinada nas escolas nas séries iniciais: a palavra que nomeia o ser. A criança deve conhecer primeiramente o que são os seres para só então poder aplicar a ação de nomeá-los, ou seja, ela deve ir ao mundo real para entender algo da linguagem.
Sabendo que essa modelo de gramática trabalhará com os significados, seja para quem quer escrever seja para quem quer falar. Era necessário criar-se um conjunto de normas, regras, para que os falantes pudessem seguir a risca a fim de manter o latim “intacto”. Tal como os médicos dizem aos seus pacientes que remédios tomarem para se curarem de suas enfermidades, os filósofos impuseram que “caminhos” as pessoas deveriam tomar caso quisessem se tornar verdadeiros cidadãos romanos através da língua. Podemos concluir, por fim, que a gramática tradicional também é prescritiva.
Quase como causa direta das duas características mencionadas acima, semântica e prescritivista, a gramática tradicional é, antes de tudo, universalista. Como já fora explicitado, a ânsia dos estudiosos gregos da linguagem humana era de preservar e de repassar a todos o latim usado pelos grandes escritores (aqui cito Homero, Virgílio, entre outros), portanto, todos que quisessem falar de maneira culta, deveriam se espelhar no latim, visto que era postulada como a língua perfeita dentre todas. Regras gerais foram criadas para que servissem para todas as outras línguas e eram pautadas no latim. Deste modo pode-se considerar que as outras propriedades tradicionais da gramática, exceto a filosófica, existiram em decorrência desse desejo de universalidade.
Com o advento da modernidade, em que o sentimento de nacionalidade aflorava em cada país, as línguas nacionais começaram a receber as atenções dos linguistas. O latim começou a perder seu caráter universal a partir do momento em que os estudos se voltavam para cada e toda manifestação da linguagem humana, independente da língua ou do país. O desejo já não procurar a língua perfeita ou mais completa, na verdade voltava-se para as descrições de cada particularidade das línguas. Por finalmente a Linguística ter se firmado como ciência específica, as bases teóricas das novas gramáticas eram baseadas na forma do enunciado, visto que Saussure, estudioso linguista, sugerira que o objeto da Linguística deveria ser a língua, ou seja, a forma da linguagem.

¹Texto feito pela aluna para a disciplina de Linguística III: Morfossintaxe, ministrada pelo Prof. Tiago Gil no dia 04 de abril de 2013 para o 3º semestre do curso de Letras, da URCA - Universidade Regional do Cariri.


por NONA AY

Um comentário:

  1. Nona e Dom, a ideia de postar a história da Linguística aqui, no blog, foi muito boa. Assim, os alunos interessados nessa área da Letras podem ter mais uma fonte de pesquisa.
    PARABÉNS... (by: Dhay)

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