Caros Visitantes,
para aqueles que tiveram interesse na resenha crítica postada por nossa colaboradora Francisca Ayanny, vulgo"Nona Ay", segue agora o texto no qual foi baseado a mesma. Espero que este texto sirva para ajudá-los na compreensão e na pesquisa relacionada à Filologia.
*OBS.: TEXTO EXTRAÍDO DIRETAMENTE DO SITE DA REVISTA "SUPERINTERESSANTE", ED. 033 DE JUNHO DE 1990.
Linguagem
Antes da Torre de Babel
Os
3 mil idiomas falados hoje no mundo podem ter a mesma origem. Na busca dessa
lingua-mãe, os pesquisadores descobrem semelhanças incríveis que talvez não
sejam coincidências.
Recolhido a seus aposentos numa certa noite do final do século VII a.C., Psamético, um dos últimos faraós do Egito, que reinou de 664 a 610 a.C., refletia sobre as línguas que os homens falavam. Sua riqueza e diversidade, as semelhanças e as diferenças entre as palavras, as pronúncias, as inflexões de voz, tudo o fascinava — principalmente a idéia de que essa multiplicidade tinha uma origem comum, uma língua mãe falada por toda a humanidade num tempo muito remoto, como afirmavam as lendas da época. O faraó imaginou então uma experiência engenhosa e cruel. Convencido de que, se ninguém ensinasse os bebês a falar, eles se expressariam naquele idioma original, determinou que dois irmãos gêmeos fossem tirados da mãe logo ao nascer e entregues a um pastor para que os criasse. O pastor recebeu ordens severas, sob pena de morte, de jamais pronunciar qualquer palavra na presença das crianças.
Quando
completaram 2 anos, o faraó mandou que se deixasse de alimentá-las, na
suposição de que a pressão da fome faria com que pedissem comida em sua
"língua natural". Não se sabe bem o que aconteceu, mas tudo indica
que o pastor, movido pela compaixão, não fez exatamente o que lhe havia sido
ordenado. Pois o inverossímil relato enviado ao faraó informava que um dos meninos,
faminto, havia pedido pão em cíntio, idioma falado antigamente na região que
viria a ser a Ucrânia, na União Soviética. Assim, satisfeito com o desfecho da
impiedosa pesquisa, Psamético decretou que o cíntio era a língua original da
humanidade. Por incrível que pareça, a experiência seria repetida dezenove
séculos mais tarde. O idealizador foi o rei germânico Frederico II (1194-1250),
que pelo visto não se convenceu das conclusões do faraó. Certamente vigiado
mais de perto, o experimento resultou no inevitável: os dois gêmeos morreram.
De
Psamético I aos dias de hoje, passando por Frederico II, muitos outros homens
igualmente curiosos se perguntaram qual teria sido e como seria possível
reviver o idioma do qual brotaram todos os demais. Essa indagação se transformou
modernamente numa área de pesquisa de ponta em Lingüística, a ciência que
estuda a evolução das línguas, suas estruturas e possíveis inter-relações no
quadro histórico e social. Os estudos viriam confirmar a crença dos antigos.
Segundo o lingüista Cidmar Teodoro Pais, da Universidade de São Paulo, a
comparação entre as várias línguas do planeta, tanto as ainda faladas quanto as
já desaparecidas, revela efetivamente algumas características comuns que
apontam para a possível existência de uma língua primeira, mãe de todas. Nesse
ponto, a Lingüística parece se afinar com as mitologias que descrevem a
dispersão das línguas pelo mundo.
A
mais conhecida delas é a história bíblica da Torre de Babel. Segundo o Antigo
Testamento, a multiplicação das línguas foi um castigo de Deus à pretensão dos
homens de construir uma torre cujo topo penetrasse no céu. As lendas chinesas
contam que a divisão da língua original fez com que o universo "se
desviasse do caminho certo". Na mitologia persa, Arimã, o espírito do mal,
pulverizou a linguagem dos homens em trinta idiomas. E um dos livros sagrados
dos maias, o Popol Vuh, lamenta: "Aqui as línguas da tribo mudaram — sua
fala ficou diferente. (...) Nossa língua era uma quando partimos de Tulán. Ai!
Esquecemos nossa fala".
Hoje
muitos lingüistas estão empenhados em passar da lenda à verdade histórica, mas
a tarefa é de extrema dificuldade. O exercício da Lingüística como ciência, por
sinal, está longe de ser uma atividade simples ou compensadora. Ao contrário,
lingüistas freqüentemente passam anônimos pelo mundo, ao contrário de outros
escavadores do passado humano, como os arqueólogos e paleontólogos. Grandes
nomes da Lingüística deste século, os franceses Ferdinand de Saussure, Émile
Benvèniste e o americano Noam Chomsky são ilustres desconhecidos para o público
leigo. "Definitivamente", resigna-se o lingüista Flávio di Giorgi, da
Universidade Católica de São Paulo, "esta ciência que se faz debruçado
sobre manuscritos antigos, inscrições ou reconstituições de línguas não tem qualquer
vocação para ser popular."
Para
quem gosta, porém. é um prato cheio. "Já me diverti muito estudando
Lingüística", conta Teodoro Pais, um professor de óculos de lentes
grossas, fala mansa e hábitos metódicos, no ramo há 30 de seus 50 anos de vida.
Afinal, os atuais 5 bilhões de seres humanos se comunicam recorrendo a um
estoque de cerca de 3 mil línguas espalhadas pelos quatro cantos do mundo.
Essas, mais outros milhares já esquecidas que deixaram algum tipo de registro
escrito, foram agrupadas em doze famílias lingüísticas importantes e cinqüenta
menos importantes.
Essas
duas grandes arrumações familiares aparentemente nada têm em comum — e eis aí a
suprema dificuldade dos pesquisadores: eles farejam semelhanças onde o que
salta aos olhos são diferenças. As buscas, contudo, têm o estímulo das
barreiras já derrubadas. Quem diria, por exemplo, que há algum parentesco,
embora remoto, entre o português e o sânscrito, uma língua falada na Índia há
milhares de anos, e ainda a sua versão moderna, o hindi? E, no entanto, o
parentesco existe.
Descobriram
os lingüistas que esses idiomas descendem de um mesmo e único tronco, o
indo-europeu, pertencendo portanto à grande família das línguas indo-européias
que inclui também o grego, o armênio, o russo, o alemão, entre muitas outras.
Hoje, aproximadamente a metade da população mundial tem como língua nativa um
idioma dessa família. Foi justamente a descoberta do parentesco entre o
sânscrito e as línguas européias, no século XVIII, que fez nascer a Lingüística
histórica, dedicada a investigar essas similaridades. A tese da origem comum
foi proposta em 1786 por Sir William Jones, um jurista inglês cujo passatempo
era estudar as culturas orientais. A partir de então, os lingüistas europeus
passaram a se dedicar a duas tarefas: uma, refazer passo a passo a árvore
genealógica dessa família, trilhando a história de sua evolução, outra,
reconstituir a língua perdida que dera origem a todas, o indo-europeu. Esse
trabalho não se faz às cegas, ou por ensaio e erro. A pesquisa percorre o
caminho aberto pelas leis lingüísticas, resultantes de outros estudos, que
mostram como os sons e os sentidos das palavras evoluem com o tempo, promovendo
a transformação das línguas. Essas leis são estabelecidas a partir de
comparações entre palavras. Por exemplo, do latim lacte e nocte vieram as
formas leite e noite. Comparando-se os termos, percebe-se que o "c"
das palavras em latim virou "i" nos vocábulos em português. No século
passado, o trabalho dos lingüistas se apoiou fortemente numa lei formulada em
1822 pelo alemão Jacob Grimm (1785-1863), mais conhecido pelos contos de fadas
que escreveu com seu irmão Wilhelm, entre os quais Branca de Neve e os sete
anões.
A
lei de Grimm afirmava ser possível prever como alguns grupos de consoantes se
modificariam com o tempo nas línguas indo-européias. Entre outras coisas, ele
dizia que uma consoante forte ou sonora (pronunciada fazendo-se vibrar as
cordas vocais) tendia a ser substituída por sua equivalente fraca ou surda
(pronunciada sem vibração das cordas vocais). O "b" e o
"p"constituem um par desse tipo, assim como o "d" e o
"t". "B" e "d " são fortes, "p" e
"t" são fracas, como se pode comprovar, pronunciando-os com a mão na
garganta. Com base nessas leis, foi possível mostrar, por exemplo, que a forma
dhar em sânscrito, que significa puxar, trazer, originou o inglês draw, o
alemão tragen, o latim trahere e o português trazer, todos com significado
semelhante. O "d" da palavra em sânscrito virou "t" nas
outras línguas. Pode-se concluir ainda que a palavra em inglês evoluiu menos
que nas demais, pois se manteve fiel ao som original do sânscrito.
Os
lingüistas puderam assim "estabelecer um modelo confiável das relações
familiares entre as línguas", conta o paulista di Giorgi,
"construindo um modelo bastante aceitável do que teria sido a língua
ancestral — o proto-indo-europeu." O que se ambiciona, porém é uma
descoberta muito maior. Dispondo das reconstituições dos ancestrais de grande
parte das famílias mais importantes, os lingüistas tentam achar relações entre
as próprias protolínguas. O primeiro e maior obstáculo é justamente o material
de que dispõem. Apesar de resultarem de cuidadosa montagem científica, as
protolínguas não passam de modelos, pouco mais que sombras do que terão sido as
línguas antigas. Algo como um dinossauro de museu em relação ao bicho
verdadeiro.
"Nesse
ponto, a análise avança com base na cultura, pois não se dispõem mais de
documentos escritos", explica Teodoro Pais, da USP, que conhece sânscrito
e gostava de trocar cartas com os colegas em proto-indo-europeu. Toda língua
produz e reflete cultura e não é à toa que, fundamentados nas palavras
reconstituídas da protolíngua, os pesquisadores podem inferir com razoável
margem de confiança os hábitos do povo que a falava. Com esses dados é possível
construir pontes até outros grupos aparentemente não relacionados. Por exemplo,
tanto nas línguas indo-européias quanto no grupo semítico, as palavras homem e
terra originalmente se confundem. Em hebraico, são respectivamente adam e
adamah, ambas derivadas de uma raiz comum em proto-semítico.
Em
proto-indo-europeu, a palavra dheghom tem os dois significados. A parte final
originou o latim homo (homem) e humus (terra, solo). Assim, embora não haja
parentesco etimológico algum entre as palavras semíticas e indo-européias, é
clara a semelhança quanto à maneira de pensar e classificar o mundo entre as
populações de ambos os grupos lingüísticos. As mais recentes descobertas da
Arqueologia e até da Genética conduzem à mesma idéia: é possível agrupar as
grandes famílias em famílias ainda maiores, um avanço formidável na busca da
língua-mãe. Há mais de vinte anos, os lingüistas russos Vladislav M. Illich
Svitch e Aron Dolgopolsky propuseram que o indo-europeu, o semítico e a família
das línguas dravídicas da Índia poderiam fazer parte de uma superfamília,
chamada então nostrática. Na época, o trabalho foi encarado com desconfiança.
Depois, ganhou alguma aceitação nos meios científicos. Há pouco, enfim, uma
descoberta da Genética parece ter dado nova projeção ao trabalho dos
soviéticos.
A
partir de análises de grupos sangüineos de várias populações, a equipe do
geneticista Allan C. Wilson, da Universidade da Califórnia. em Berkeley,
concluiu que há um grande parentesco genético entre os falantes das línguas
indo-européias, semíticas e dravídicas. Isso quer dizer que, ocupando uma
vastíssima porção do planeta, da Ásia às Américas, eles têm mais em comum entre
si do que, digamos, com os japoneses ou os esquimós. Essa descoberta coincide
de forma espantosa com a teoria da superfamília nostrática. Em outra frente,
pesquisas arqueológicas e lingüísticas estão finalmente determinando o local de
origem do proto-indo-europeu-um dos objetivos dos lingüistas desde o século
passado.
Até
os anos 40, os pesquisadores acreditavam que o berço do indo-europeu estava
situado no norte da Alemanha e da Polônia. Essa teoria, sustentada por deduções
bastante ingênuas, foi usada nada ingenuamente pelos nazistas para confirmar
sua teoria de que a raça tida como pura dos arianos surgira ali mesmo. Os
lingüistas imaginavam que, se fosse possível estabelecer um pequeno vocabulário
comum à maioria da línguas indo-européias, estariam diante de algumas palavras
localizadoras, sobreviventes do proto-indo-europeu, em cuja terra natal seriam ainda
faladas. Uma dessas tentativas estabeleceu três palavras localizadoras —
tartaruga, faia (uma árvore) e salmão. O único lugar onde todas elas podiam ser
encontradas era uma área da Europa Central entre os rios Elba, Oder e Reno, na
Alemanha, de um lado, e o Vístula, na Polônia, de outro. Ali havia salmões,
tartarugas e faias. Não havia tartarugas ao norte da fronteira alemã, faias a
leste do Vístula nem salmões a oeste do Reno. O método acabou desacreditado,
pois muitas das palavras localizadoras estão sujeitas a mudanças de sentido,
não sendo portanto instrumentos confiáveis.
As
pesquisas mais recentes afirmam que o proto-indo-europeu era falado há cerca de
6 mil anos na Ásia e não na Europa Central. Dois trabalhos, um do americano
Colin Renfrew, outro dos soviéticos Thomas Gamkrelidze e V.V. Ivanov, concordam
ao apontar o berço do indo-europeu como o planalto da Anatólia, uma região que
vai da Turquia à República da Armênia, que faz parte da União Soviética. Dali,
movidos pela busca de terras férteis e de novos campos de caça, os
indo-europeus migraram, há uns cinco milênios, seja para a Europa, seja para a
Ásia. A corrida à procura da língua-mãe está apenas começando mas desde já
nessa aventura científica não faltam algumas descobertas insólitas.
Uma
delas é a incrível semelhança de palavras entre as línguas indígenas da América
pré-colombiana e idiomas falados pelos povos do Mediterrâneo e Oriente Médio.
Por exemplo, os índios araucanos do Chile usam a mesma palavra que os antigos
egípcios, anta, para designar o Sol e a mesma palavra que os antigos sumérios,
bal, para machado. A palavra araucana para cidade é kar, semelhante a cidade em
fenício, que é kart. Há mais: a palavra maia thallac, que designa "o que
não é sólido", é semelhante a Thallath, o nome da deusa do caos na antiga
Babilônia. Curiosamente, thallac lembra ainda thalassa, mar em grego, e Tlaloc,
o deus asteca da chuva. Shapash, o deus-sol dos fenícios, é também o deus-sol
dos índios klamath, no Oregon,
Estados Unidos. Essas misteriosas semelhanças escapam a qualquer tentativa de
classificação. Mas, como disse certa vez Albert Einstein, o mistério é a fonte
de toda verdadeira ciência. Desde que, para resolvê-lo, não seja preciso negar
comida a crianças, como fizeram um faraó egípcio e um rei germânico.
Libido,
liberdade lubrificante....
"Cada
palavra tem sua biografia particular", ensina o linguista Flávio di
Giorgi. O estudo dessas biografias proporciona um conhecimento íntimo do idioma
e das contribuições que o enriqueceram. Alguns exemplos em português:
Tufão vem do chinês tu fong, vento
forte.
Crocodilo vem do grego krokos deilos, lagarto do Nilo.
Óbvio vem do latim ob, na frente, e vias, caminho. Elementar.
Goiaba vem do tupi moim, cobrinha, e uba, fruta. Óbvio.
Xeque-mate vem do iraniano shahmat, o xá está morto.
Ébrio vem do celtibero bria, uma grande caneca de cerveja consumida nas tavernas da Península Ibérica na época dos romanos. Os que tomavam mais de uma caneca eram os exbria, além da caneca.
Sóbrio vem de sub-bria, aqueles que se contentavam com menos de uma caneca.
Libido, liberdade e lubrificante têm a mesma raiz latina lib. "Faz sentido", ensina di Giorgi. "Sentir amor erótico significa ao mesmo tempo libertar-se, estar desimpedido, lubrificado, como prova a fisiologia humana."
Crocodilo vem do grego krokos deilos, lagarto do Nilo.
Óbvio vem do latim ob, na frente, e vias, caminho. Elementar.
Goiaba vem do tupi moim, cobrinha, e uba, fruta. Óbvio.
Xeque-mate vem do iraniano shahmat, o xá está morto.
Ébrio vem do celtibero bria, uma grande caneca de cerveja consumida nas tavernas da Península Ibérica na época dos romanos. Os que tomavam mais de uma caneca eram os exbria, além da caneca.
Sóbrio vem de sub-bria, aqueles que se contentavam com menos de uma caneca.
Libido, liberdade e lubrificante têm a mesma raiz latina lib. "Faz sentido", ensina di Giorgi. "Sentir amor erótico significa ao mesmo tempo libertar-se, estar desimpedido, lubrificado, como prova a fisiologia humana."
por DOM.
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