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segunda-feira, 29 de abril de 2013

CANÇÃO DA 15ª JORNADA NACIONAL DE LITERATURA


Acabo de ler no blog Nádia Letr@s que essa música é muito interessante (e de fato É). Ela foi escolhida para ser tema da 15ª jornada nacional de literatura de Passo Fundo (RS).





LEITURAS
Paulo Becker / Humberto Gessinger

Leio com os olhos
Um haicai do Leminski
Que recitei outrora
Só pra te ver sorrir

Leio com a língua
O sabor do alfajor
O mel da melancia
E o sal do teu suor

Com o meu nariz
Leio aromas da estação
Os cheiros mais sutis
Que teu corpo exala

Leio com os olhos
Boca e ouvidos
Pele e nariz
Todos os sentidos
Leio comovido
Todos os sentidos
Da vida

Com os meus ouvidos
Leio acordes e ruídos
A chuva em surdina
Tua palavra clara

Leio com as mãos
Feito criança a tocar
Tudo que o olho vê
Leio teu corpo em braile

Leio com os olhos
Boca e ouvidos
Pele e nariz
Todos os sentidos
Leio comovido
Todos os sentidos
Da vida



Clique aqui para baixar a música

Agradecimento Especial a  Nádia Letr@s

UM POUCO MAIS DE FILOLOGIA.

Caros Visitantes,
para aqueles que tiveram interesse na resenha crítica postada por nossa colaboradora Francisca Ayanny, vulgo"Nona Ay", segue agora o texto no qual foi baseado a mesma. Espero que este texto sirva para ajudá-los na compreensão e na pesquisa relacionada à Filologia.

*OBS.: TEXTO EXTRAÍDO DIRETAMENTE DO SITE DA REVISTA "SUPERINTERESSANTE", ED. 033 DE JUNHO DE 1990.

Linguagem
Antes da Torre de Babel
Os 3 mil idiomas falados hoje no mundo podem ter a mesma origem. Na busca dessa lingua-mãe, os pesquisadores descobrem semelhanças incríveis que talvez não sejam coincidências.

Recolhido a seus aposentos numa certa noite do final do século VII a.C., Psamético, um dos últimos faraós do Egito, que reinou de 664 a 610 a.C., refletia sobre as línguas que os homens falavam. Sua riqueza e diversidade, as semelhanças e as diferenças entre as palavras, as pronúncias, as inflexões de voz, tudo o fascinava — principalmente a idéia de que essa multiplicidade tinha uma origem comum, uma língua mãe falada por toda a humanidade num tempo muito remoto, como afirmavam as lendas da época. O faraó imaginou então uma experiência engenhosa e cruel. Convencido de que, se ninguém ensinasse os bebês a falar, eles se expressariam naquele idioma original, determinou que dois irmãos gêmeos fossem tirados da mãe logo ao nascer e entregues a um pastor para que os criasse. O pastor recebeu ordens severas, sob pena de morte, de jamais pronunciar qualquer palavra na presença das crianças.
Quando completaram 2 anos, o faraó mandou que se deixasse de alimentá-las, na suposição de que a pressão da fome faria com que pedissem comida em sua "língua natural". Não se sabe bem o que aconteceu, mas tudo indica que o pastor, movido pela compaixão, não fez exatamente o que lhe havia sido ordenado. Pois o inverossímil relato enviado ao faraó informava que um dos meninos, faminto, havia pedido pão em cíntio, idioma falado antigamente na região que viria a ser a Ucrânia, na União Soviética. Assim, satisfeito com o desfecho da impiedosa pesquisa, Psamético decretou que o cíntio era a língua original da humanidade. Por incrível que pareça, a experiência seria repetida dezenove séculos mais tarde. O idealizador foi o rei germânico Frederico II (1194-1250), que pelo visto não se convenceu das conclusões do faraó. Certamente vigiado mais de perto, o experimento resultou no inevitável: os dois gêmeos morreram.
De Psamético I aos dias de hoje, passando por Frederico II, muitos outros homens igualmente curiosos se perguntaram qual teria sido e como seria possível reviver o idioma do qual brotaram todos os demais. Essa indagação se transformou modernamente numa área de pesquisa de ponta em Lingüística, a ciência que estuda a evolução das línguas, suas estruturas e possíveis inter-relações no quadro histórico e social. Os estudos viriam confirmar a crença dos antigos. Segundo o lingüista Cidmar Teodoro Pais, da Universidade de São Paulo, a comparação entre as várias línguas do planeta, tanto as ainda faladas quanto as já desaparecidas, revela efetivamente algumas características comuns que apontam para a possível existência de uma língua primeira, mãe de todas. Nesse ponto, a Lingüística parece se afinar com as mitologias que descrevem a dispersão das línguas pelo mundo.
A mais conhecida delas é a história bíblica da Torre de Babel. Segundo o Antigo Testamento, a multiplicação das línguas foi um castigo de Deus à pretensão dos homens de construir uma torre cujo topo penetrasse no céu. As lendas chinesas contam que a divisão da língua original fez com que o universo "se desviasse do caminho certo". Na mitologia persa, Arimã, o espírito do mal, pulverizou a linguagem dos homens em trinta idiomas. E um dos livros sagrados dos maias, o Popol Vuh, lamenta: "Aqui as línguas da tribo mudaram — sua fala ficou diferente. (...) Nossa língua era uma quando partimos de Tulán. Ai! Esquecemos nossa fala".
Hoje muitos lingüistas estão empenhados em passar da lenda à verdade histórica, mas a tarefa é de extrema dificuldade. O exercício da Lingüística como ciência, por sinal, está longe de ser uma atividade simples ou compensadora. Ao contrário, lingüistas freqüentemente passam anônimos pelo mundo, ao contrário de outros escavadores do passado humano, como os arqueólogos e paleontólogos. Grandes nomes da Lingüística deste século, os franceses Ferdinand de Saussure, Émile Benvèniste e o americano Noam Chomsky são ilustres desconhecidos para o público leigo. "Definitivamente", resigna-se o lingüista Flávio di Giorgi, da Universidade Católica de São Paulo, "esta ciência que se faz debruçado sobre manuscritos antigos, inscrições ou reconstituições de línguas não tem qualquer vocação para ser popular."
Para quem gosta, porém. é um prato cheio. "Já me diverti muito estudando Lingüística", conta Teodoro Pais, um professor de óculos de lentes grossas, fala mansa e hábitos metódicos, no ramo há 30 de seus 50 anos de vida. Afinal, os atuais 5 bilhões de seres humanos se comunicam recorrendo a um estoque de cerca de 3 mil línguas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Essas, mais outros milhares já esquecidas que deixaram algum tipo de registro escrito, foram agrupadas em doze famílias lingüísticas importantes e cinqüenta menos importantes.
Essas duas grandes arrumações familiares aparentemente nada têm em comum — e eis aí a suprema dificuldade dos pesquisadores: eles farejam semelhanças onde o que salta aos olhos são diferenças. As buscas, contudo, têm o estímulo das barreiras já derrubadas. Quem diria, por exemplo, que há algum parentesco, embora remoto, entre o português e o sânscrito, uma língua falada na Índia há milhares de anos, e ainda a sua versão moderna, o hindi? E, no entanto, o parentesco existe.
Descobriram os lingüistas que esses idiomas descendem de um mesmo e único tronco, o indo-europeu, pertencendo portanto à grande família das línguas indo-européias que inclui também o grego, o armênio, o russo, o alemão, entre muitas outras. Hoje, aproximadamente a metade da população mundial tem como língua nativa um idioma dessa família. Foi justamente a descoberta do parentesco entre o sânscrito e as línguas européias, no século XVIII, que fez nascer a Lingüística histórica, dedicada a investigar essas similaridades. A tese da origem comum foi proposta em 1786 por Sir William Jones, um jurista inglês cujo passatempo era estudar as culturas orientais. A partir de então, os lingüistas europeus passaram a se dedicar a duas tarefas: uma, refazer passo a passo a árvore genealógica dessa família, trilhando a história de sua evolução, outra, reconstituir a língua perdida que dera origem a todas, o indo-europeu. Esse trabalho não se faz às cegas, ou por ensaio e erro. A pesquisa percorre o caminho aberto pelas leis lingüísticas, resultantes de outros estudos, que mostram como os sons e os sentidos das palavras evoluem com o tempo, promovendo a transformação das línguas. Essas leis são estabelecidas a partir de comparações entre palavras. Por exemplo, do latim lacte e nocte vieram as formas leite e noite. Comparando-se os termos, percebe-se que o "c" das palavras em latim virou "i" nos vocábulos em português. No século passado, o trabalho dos lingüistas se apoiou fortemente numa lei formulada em 1822 pelo alemão Jacob Grimm (1785-1863), mais conhecido pelos contos de fadas que escreveu com seu irmão Wilhelm, entre os quais Branca de Neve e os sete anões.
A lei de Grimm afirmava ser possível prever como alguns grupos de consoantes se modificariam com o tempo nas línguas indo-européias. Entre outras coisas, ele dizia que uma consoante forte ou sonora (pronunciada fazendo-se vibrar as cordas vocais) tendia a ser substituída por sua equivalente fraca ou surda (pronunciada sem vibração das cordas vocais). O "b" e o "p"constituem um par desse tipo, assim como o "d" e o "t". "B" e "d " são fortes, "p" e "t" são fracas, como se pode comprovar, pronunciando-os com a mão na garganta. Com base nessas leis, foi possível mostrar, por exemplo, que a forma dhar em sânscrito, que significa puxar, trazer, originou o inglês draw, o alemão tragen, o latim trahere e o português trazer, todos com significado semelhante. O "d" da palavra em sânscrito virou "t" nas outras línguas. Pode-se concluir ainda que a palavra em inglês evoluiu menos que nas demais, pois se manteve fiel ao som original do sânscrito.
Os lingüistas puderam assim "estabelecer um modelo confiável das relações familiares entre as línguas", conta o paulista di Giorgi, "construindo um modelo bastante aceitável do que teria sido a língua ancestral — o proto-indo-europeu." O que se ambiciona, porém é uma descoberta muito maior. Dispondo das reconstituições dos ancestrais de grande parte das famílias mais importantes, os lingüistas tentam achar relações entre as próprias protolínguas. O primeiro e maior obstáculo é justamente o material de que dispõem. Apesar de resultarem de cuidadosa montagem científica, as protolínguas não passam de modelos, pouco mais que sombras do que terão sido as línguas antigas. Algo como um dinossauro de museu em relação ao bicho verdadeiro.
"Nesse ponto, a análise avança com base na cultura, pois não se dispõem mais de documentos escritos", explica Teodoro Pais, da USP, que conhece sânscrito e gostava de trocar cartas com os colegas em proto-indo-europeu. Toda língua produz e reflete cultura e não é à toa que, fundamentados nas palavras reconstituídas da protolíngua, os pesquisadores podem inferir com razoável margem de confiança os hábitos do povo que a falava. Com esses dados é possível construir pontes até outros grupos aparentemente não relacionados. Por exemplo, tanto nas línguas indo-européias quanto no grupo semítico, as palavras homem e terra originalmente se confundem. Em hebraico, são respectivamente adam e adamah, ambas derivadas de uma raiz comum em proto-semítico.
Em proto-indo-europeu, a palavra dheghom tem os dois significados. A parte final originou o latim homo (homem) e humus (terra, solo). Assim, embora não haja parentesco etimológico algum entre as palavras semíticas e indo-européias, é clara a semelhança quanto à maneira de pensar e classificar o mundo entre as populações de ambos os grupos lingüísticos. As mais recentes descobertas da Arqueologia e até da Genética conduzem à mesma idéia: é possível agrupar as grandes famílias em famílias ainda maiores, um avanço formidável na busca da língua-mãe. Há mais de vinte anos, os lingüistas russos Vladislav M. Illich Svitch e Aron Dolgopolsky propuseram que o indo-europeu, o semítico e a família das línguas dravídicas da Índia poderiam fazer parte de uma superfamília, chamada então nostrática. Na época, o trabalho foi encarado com desconfiança. Depois, ganhou alguma aceitação nos meios científicos. Há pouco, enfim, uma descoberta da Genética parece ter dado nova projeção ao trabalho dos soviéticos.
A partir de análises de grupos sangüineos de várias populações, a equipe do geneticista Allan C. Wilson, da Universidade da Califórnia. em Berkeley, concluiu que há um grande parentesco genético entre os falantes das línguas indo-européias, semíticas e dravídicas. Isso quer dizer que, ocupando uma vastíssima porção do planeta, da Ásia às Américas, eles têm mais em comum entre si do que, digamos, com os japoneses ou os esquimós. Essa descoberta coincide de forma espantosa com a teoria da superfamília nostrática. Em outra frente, pesquisas arqueológicas e lingüísticas estão finalmente determinando o local de origem do proto-indo-europeu-um dos objetivos dos lingüistas desde o século passado.
Até os anos 40, os pesquisadores acreditavam que o berço do indo-europeu estava situado no norte da Alemanha e da Polônia. Essa teoria, sustentada por deduções bastante ingênuas, foi usada nada ingenuamente pelos nazistas para confirmar sua teoria de que a raça tida como pura dos arianos surgira ali mesmo. Os lingüistas imaginavam que, se fosse possível estabelecer um pequeno vocabulário comum à maioria da línguas indo-européias, estariam diante de algumas palavras localizadoras, sobreviventes do proto-indo-europeu, em cuja terra natal seriam ainda faladas. Uma dessas tentativas estabeleceu três palavras localizadoras — tartaruga, faia (uma árvore) e salmão. O único lugar onde todas elas podiam ser encontradas era uma área da Europa Central entre os rios Elba, Oder e Reno, na Alemanha, de um lado, e o Vístula, na Polônia, de outro. Ali havia salmões, tartarugas e faias. Não havia tartarugas ao norte da fronteira alemã, faias a leste do Vístula nem salmões a oeste do Reno. O método acabou desacreditado, pois muitas das palavras localizadoras estão sujeitas a mudanças de sentido, não sendo portanto instrumentos confiáveis.
As pesquisas mais recentes afirmam que o proto-indo-europeu era falado há cerca de 6 mil anos na Ásia e não na Europa Central. Dois trabalhos, um do americano Colin Renfrew, outro dos soviéticos Thomas Gamkrelidze e V.V. Ivanov, concordam ao apontar o berço do indo-europeu como o planalto da Anatólia, uma região que vai da Turquia à República da Armênia, que faz parte da União Soviética. Dali, movidos pela busca de terras férteis e de novos campos de caça, os indo-europeus migraram, há uns cinco milênios, seja para a Europa, seja para a Ásia. A corrida à procura da língua-mãe está apenas começando mas desde já nessa aventura científica não faltam algumas descobertas insólitas.
Uma delas é a incrível semelhança de palavras entre as línguas indígenas da América pré-colombiana e idiomas falados pelos povos do Mediterrâneo e Oriente Médio. Por exemplo, os índios araucanos do Chile usam a mesma palavra que os antigos egípcios, anta, para designar o Sol e a mesma palavra que os antigos sumérios, bal, para machado. A palavra araucana para cidade é kar, semelhante a cidade em fenício, que é kart. Há mais: a palavra maia thallac, que designa "o que não é sólido", é semelhante a Thallath, o nome da deusa do caos na antiga Babilônia. Curiosamente, thallac lembra ainda thalassa, mar em grego, e Tlaloc, o deus asteca da chuva. Shapash, o deus-sol dos fenícios, é também o deus-sol dos índios klamath, no Oregon, Estados Unidos. Essas misteriosas semelhanças escapam a qualquer tentativa de classificação. Mas, como disse certa vez Albert Einstein, o mistério é a fonte de toda verdadeira ciência. Desde que, para resolvê-lo, não seja preciso negar comida a crianças, como fizeram um faraó egípcio e um rei germânico.




Libido, liberdade lubrificante....
"Cada palavra tem sua biografia particular", ensina o linguista Flávio di Giorgi. O estudo dessas biografias proporciona um conhecimento íntimo do idioma e das contribuições que o enriqueceram. Alguns exemplos em português:

Tufão vem do chinês tu fong, vento forte.
Crocodilo vem do grego krokos deilos, lagarto do Nilo.
Óbvio vem do latim ob, na frente, e vias, caminho. Elementar.
Goiaba vem do tupi moim, cobrinha, e uba, fruta. Óbvio.
Xeque-mate vem do iraniano shahmat, o xá está morto.
Ébrio vem do celtibero bria, uma grande caneca de cerveja consumida nas tavernas da Península Ibérica na época dos romanos. Os que tomavam mais de uma caneca eram os exbria, além da caneca.
Sóbrio vem de sub-bria, aqueles que se contentavam com menos de uma caneca.
Libido, liberdade e lubrificante têm a mesma raiz latina lib. "Faz sentido", ensina di Giorgi. "Sentir amor erótico significa ao mesmo tempo libertar-se, estar desimpedido, lubrificado, como prova a fisiologia humana."




*Retirado diretamente do seguinte link: http://super.abril.com.br/historia/lingua-mae-antes-torre-babel-439479.shtml . (Original da internet)

por DOM.

E agora.... Filologia!

Demorei um pouco, isso é verdade, mas aqui está um exemplo de Resenha Crítica para todos aqueles que leram a matéria sobre resenha. Esta que aqui posto foi feita por mim, para a disciplina de Filologia lecionada pela Porf.ª Adjanir Nascimento, no curso de Letras o qual sou aluna.
Sem mais delongas, a resenha.


Resenha sobre a Reportagem da revista Superinteressante¹ de 1990

É complicado se trabalhar com certas áreas históricas em vista da pouca quantidade de dados que tais garantem aos seus pesquisadores. A Filologia, ainda que seja uma ciência inteiramente voltada para a linguagem, se envolve com a História tal como se envolve com outras ciências, como a Psicologia e a Antropologia. Para tanto, sabe-se que documentos oficiais, principal objeto de estudos, perderam-se com o tempo de acordo com as situações em que se envolviam. Pensando desta forma, consegue-se entender o quanto complicada é a busca pela árvore genealógica que muitas vezes a Filologia se presta com o apoio da Linguística Histórica.
Um dos trabalhos da Linguística do século passado, o mais importante de todos eles, era encontrar a mãe das línguas, ou pelo menos algum parentesco, através da comparação entre línguas semelhantes. Desta forma descobriram-se as línguas românicas, isto é, línguas que possuem uma mesma raiz comum: o latim. Bem como outras famílias linguísticas surgiram na medida em que as comparações ganhavam concretude. As “proto-famílias” (por que não dizer “as superfamílias”) também se tornaram alvos para os linguistas a partir do momento que eles perceberam que as famílias linguísticas possuíam certo grau de semelhança, ao se observarem certos grupos de vocábulos e seus significados. Talvez umas das ânsias dos linguistas fosse comprovar o mito da Torre de Babel, em que todos os homens falavam a mesma língua e, para demonstrar a superioridade humana, criaram uma torre que pudesse alcançar o céu. Deus, para “castigar” a pretensão do homem, destruiu a torre e com ela a língua original, fazendo com todos os homens passassem a falar línguas diferentes. Mas surge o questionamento: qual o interesse da Filologia nessa investigação histórica?
Realmente é uma pergunta pertinente e a resposta é ainda mais pertinente. Para uma ciência que estuda a cultura e o comportamento dos povos através dos escritos deixados por eles, seria bastante conveniente conhecer a origem de todas as línguas, por mais utópico que possa parecer. O ato de conhecer a gênesis linguística ajuda o filólogo a entender os processos culturais que modificaram e distanciaram, ou não, a língua-mãe de suas “filhas e netas”. No entanto, há um porém, talvez o mais sutil e definidor de todos: muitas vezes as evidências genealógicas entre línguas remotamente aparentadas são escassas, ou seja, os linguísticas históricos se valem de algumas poucas palavras na busca do sang’real, isto é, o sangue real. Sabe-se que do contato de uma língua com outra, pode ocorrer da primeira tomar para si expressões da segunda e vice-versa. Qual seria a prova, então, de que ambas são parentes? Nem sempre a semelhança de alguns vocábulos indicará um verdadeiro grau de parentesco.
A reportagem publicada na revista Superinteressante, intitulada “Antes da Torre de Babel” vem relatar tais constatações já abordadas ao longo do texto. No terceiro parágrafo, na seção Português é aparentado até com o sânscrito, é relatado: [...] “3 mil línguas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Essas, mais outras milhares já esquecidas que deixaram algum tipo de registro escrito, foram agrupadas em doze² famílias linguísticas importantes e cinquenta menos importantes.” Nesse pequeno trecho, mas bastante esclarecedor, nota-se o nível de dificuldade que linguistas históricos de todo o mundo enfrentam ao longo de seus estudos. Se supusermos que cada língua possui em torno de 5.000 verbetes, cada qual com seus significados e etimologias próprias, teremos 15.000.000 milhões de palavras oficialmente catalogadas para serem comparadas, sem estar levando em conta os dialetos e as línguas ditas mortas³ (a exemplo o latim).
Tamanho trabalho árduo gera frutos mínimos observando tais números, mesmo que supostos. Comparar línguas, encontrar nelas reminiscências de outra, e nesta se deparar com resquícios, e para fim encontrar nestes sopros ou ecos de um passado de difícil acesso de uma língua. É de semelhante dificuldade que os paleontólogos partilham ao encontrarem o osso da ponta da cauda de um gigantesco brontossauro (um dos dinossauros de maior comprimento de que se tem notícia).
Na reportagem mencionada, logo de cara nos deparamos com um fato comprovado: essa investigação não é algo oriundo dos tempos modernos. Bem antes do nascimento de Cristo, um faraó já refletia sobre a língua dos homens. As mais bizarras experiências foram feitas para tentar descobrir qual era a língua dos primórdios. Bebês eram criados sem nenhum contato social e verbal, se preciso fosse o suprimento alimentício seria cortado para que eles fossem instigados a usar a língua original. No entanto, ao que consta, foi um fiasco. Mas o desejo de descobrir a “avó” de todas as mães de todas as línguas resistiu ao tempo e as experiências com crianças. Chegou aos tempos modernos e com eles encontrou novos meios de estudar as similaridades que as línguas tinham entre si, assim dando início a Linguística Histórica e realçando os interesses da Filologia.
Um dos pontos que ponho em cheque nesse momento final do texto, talvez culminante para toda a minha argumentação, são os justos exemplos dados ao fim da reportagem. Aqui cito o parágrafo:

Uma delas é a incrível semelhança de palavras entre as línguas indígenas da América pré-colombiana e idiomas falados pelos povos do Mediterrâneo e Oriente Médio. Por exemplo, os índios araucanos do Chile usam a mesma palavra que os antigos egípcios, anta, para designar o Sol e a mesma palavra que os antigos sumérios, bal, para machado. A palavra araucana para cidade é kar, semelhante a cidade em fenício, que é kart. (SUPERINTERESSANTE, pg.??, 1990)

Os linguistas, bem como os filólogos, trabalham com muito pouco para dizer tanto. Não afirmo que seja um trabalho em vão, que tais estudos não levarão a lugar algum, no entanto já se percebeu que as famílias e as proto-famílias não são realmente línguas concretas: na verdade são suposições das originais, posto que não haja documentos escritos em tais línguas. É preciso tomar cuidado, pois uma língua possuir palavras semelhantes, ou de mesmos significados, ou mesmo idênticas a outras não significará propriamente que sejam irmãs, primas, netas, filhas ou mães.






¹  Número da revista não identificado, bem como o mês de publicação
²No texto original se encontra “dose”, mas para ajudar na compreensão a correção foi feita.
³Uma língua morta não significa que não é mais usada. Na verdade é uma língua que não é mais falada pelo povo.



por Nona Ay

domingo, 28 de abril de 2013

NFORMATIVO (2) - LETRAS EM FOCO.

Seminários de Estudos da Linguagem 2013.1


Carga Horária :16h

Local: Salão de Atos



Datas e horários:

ABRIL: 

05 (17h): "Teoria do Conto" 
(prof. Newton de Castro Pontes )

18 (10h): "A Teoria da Interlíngua e suas contribuições para o ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras" (profa. Cristiane Rodrigues)

29(17h): "Linguística forense" (Profa. Lisa Marie Young)


MAIO: 
24 (10h): "Literatura e Subalternidade" (Prof. Auricélio) 

29 (17h):


JUNHO: 
10(10h): "Discurso político no folheto de cordel (profa. Cláudia Rejane)

28 (17h): (profa. Sandra Espínola)


JULHO: 
03 (10h): "Crítica genética e processo de criação" (profa. Lúcia Agra)



INCRIÇÕES ENCERRADAS!


Mais informações com os professores

Thiago Gil e Edmar Cialdine e pelo e-mail sel.urca@gmail.com

(EXTRAÍDO DO BLOG: "CIALDINEARRUDA")

por DOM.

INFORMATIVO - LETRAS EM FOCO.

URGENTE: DISCIPLINA DE BRAILE

A COORDENAÇÃO DO CURSO DE LETRAS DA URCA AVISA:

SERÁ FEITA ESSA SEMANA EM CARÁTER ESPECIAL MATRÍCULAS PARA A DISCICIPLINA OPTATIVA DE BRAILE.

AS MATRÍCULAS SERÃO NA COORDENAÇÃO DO CURSO DE LETRAS

AS AULAS JÁ COMEÇARÃO PRÓXIMA SEMANA

OS HORÁRIOS DAS TURMAS SERÃO:

MANHÃ: QUINTA (CD) E SEXTA (AB)
TARDE: TERÇA (ABCD)
NOITE: QUINTA (CD) E SEXTA (AB)


(*0BS.: TEXTO EXTRAÍDO DO BLOG "CIALDINEARRUDA" DO PROFº.MS. FRANCISCO EDMAR CIALDINE ARRUDA).


P.S.: AS INCRIÇÕES PARA A OPTATIVA DE BRAILLE JÁ FORAM ENCERRADAS.(GRIFOS NOSSOS).

POR DOM.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Resenha


PESSOA, Simone. Dissertação não é bicho-papão: desmitificando monografias, teses e escritos acadêmicos. Rio de Janeiro: Rocco, 2005. Resenhado por BARBOSA, D. A. e RODRIGUES, L. B..

        O presente trabalho tem por objetivo tratar de questões especificas acerca do livro “Dissertação não é bicho-papão” de Simone Pessoa. Sobre esse aspecto alguns dos pontos que merecerão nossa atenção é a escolha do tema, parte crucial do desenvolvimento da dissertação. A leitura que é essencial para qualquer trabalho acadêmico, assim como o envolvimento da família, sem esquecermos, é claro, da organização do tempo, para não perder os prazos estabelecidos na entrega do trabalho final. Não abordaremos todos os capítulos, visto que a maioria se adequa a um roteiro prático aos que se empenham na tarefa de escrever seus trabalhos acadêmicos. Assim os já mencionados assuntos ganharão destaque em nossa abordagem.

      Ao produzirmos um trabalho acadêmico, tese, dissertação, monografia etc., precisamos de um ponto de partida. E isto não quer dizer que este trabalho não possa ou deva ser prazeroso. Dessa forma, Pessoa nos mostra de uma forma simplificada que a experiência pode vir a ser maravilhosa. Todos os pontos discutidos pela autora foram feitos com singeleza e maestria, baseados nas experiências vividas pela mesma. Pessoa mostra-nos de fato o “caminho das pedras” e este não é fácil, entretanto pode ser satisfatório. A autora afirma que “Ao invés de aprisionar e fazer sofrer, é uma fonte de libertação e crescimento.” (p.12). A leitura atenta acerca deste ponto, libertação e não aprisionamento é de se concordar, devido ao fato de que ao fazermos a dissertação nos sentiremos mais seguros, e porque não dizer livres, para nos dedicar a outros projetos e trabalhos acadêmicos. Assim ao avaliarmos os benefícios advindos desta experiência só teremos a crescer.
         A dissertação é uma tarefa, que exige compreensão de todos que estão ao nosso redor e é de suma relevância que todos ajudem em todas as atividades que o acadêmico precisar, claro que não é tarefa fácil, mas com uma boa conversa antecipada é possível organizar as coisas e seguir com a dissertação. Uma boa opção que a autora nos dá é de fazer um acordo de convivência com os moradores (familiares) da casa do acadêmico, para que seja possível o entendimento entre eles. Outro aspecto essencial é o tempo, pois a prioridade é da dissertação neste período para não sermos surpreendidos pelos prazos que teremos de cumprir, devendo, ter “cuidado para não relaxar demais e dormir no ponto. Apesar da fartura de tempo, a ordem continua sendo: disciplina e muita dedicação.” (p.32).

      Outra questão de fundamental relevância é a escolha do tema, pois o conhecimento deste, em qualquer que seja a situação, é crucial. Falar sobre algo que não conhecemos é expor-se ao “ridículo” diante de pessoas que dominam o assunto. Da mesma forma podemos direcionar o que foi mencionado para a escolha do tema da dissertação. Nas palavras de Pessoa “temos que ser criteriosos ao eleger aquela que causa maior ressonância e faz o coração e a razão entrarem em sintonia” (p. 38). Não falamos sobre o que não conhecemos tampouco sobre o que nos desagrada. Logo a escolha do tema é uma questão diretamente ligada à emoção e à razão.

     Ante o exposto somos direcionados ao ponto leitura. Ler, ler e ler. Escolhido o tema é chegada à hora da coleta das informações que comporão a parte teórica da dissertação. A autora nos aconselha a leitura de um livro por vez, para que não se deixe de marcar pontos importantes o que pode vir a ser uma “mão na roda” na hora de organizar a arte final da dissertação. Por outro lado há aqueles que leem vários livros ao mesmo tempo, isto não é condenado pela autora. Entretanto, alerta que pontos importantes podem ser perdidos e o acadêmico terá que “investir um tempinho no resgate para não perder o fio da meada.” (p. 74). “Cada coisa ao seu tempo” e a leitura não foge a esta regra.

     Outro aspecto que a autora considera indispensável é a escolha do orientador sendo essa a “segunda eleição fundamental para o sucesso da trajetória dissertativa.” (p.53) Esta relação deve ser “harmônica”, rodeada de “sentimento de cumplicidade e bem-estar” e ter como objetivo principal a realização da pesquisa. É por nós sabido que qualquer desentendimento entre orientador-orientando resultará, em último caso, no abandono do curso pelo aluno. Assim, “O orientador dos sonhos é aquele que nos mobiliza para a ação” (p. 54).

     Não podemos esquecer que ao produzirmos um texto, seja ele de qualquer gênero, há necessidade de métodos organizacionais. Diante disso destacamos que a objetividade e a clareza de ideias são imprescindíveis. Após o termino da pesquisa é hora de reunir todo material e montar a dissertação em si. Pessoa nos aconselha a “considerar a facilidade na obtenção de dados” (p. 117), evitando desta forma dor de cabeça. É momento de provar as teorias. É de base fundamental que sejamos sempre claros em nossos argumentos e isto também serve para a comprovação de nossa teoria na dissertação

     Outro ponto do livro é a discussão referente ao exame de qualificação. Este exame é a fase mais importante do curso na medida em que aponta caminhos e soluções para os problemas existentes na pesquisa. Ainda nessa etapa a autora nos compara a um escultor “lapidando e buscando o aperfeiçoamento da obra a cada toque” (p.101).  A autora sugere que o aluno produza “um jogo de slides” (...)“ que sintetize o essencial do trabalho”, onde “as ideias-chave” estejam “agrupadas numa mesma sequência”. Ser receptivos com as observações dos componentes da banca. Sobre este aspecto, Pessoa mostra que a escolha destes componentes é “mais que um simples detalhe, a escolha da banca é uma questão estratégica” (p. 107) e que segue o mesmo método da escolha do orientador. Essas dicas são retomadas pela autora no referente à defesa da dissertação.

     A autora reserva para o último capítulo os comentários feitos pelos membros da banca que avaliou sua dissertação. Estes comentários enriquecem a obra por representarem a experiência de quem avalia e orienta monografias, dissertações e teses. É nesse contexto que todas opinam sobre a “motivação”, do tempo, da “escolha do tema”, da relação orientador-orientando, da “estrutura da dissertação”, da bibliografia, da “escrita do texto”, do relacionamento com a banca, dentre outros. É ainda neste último que aprendemos sobre o “mestre interno” que segundo Vieira¹ “É este mestre acadêmico – aquilo que não conhecemos de nós mesmos – que vai escolher o assunto para exercitar-se e ‘aparecer’”. (p. 139). Em outros termos a descoberta do “mestre-interior” supera o ímpeto pelo sucesso e no final de todo o processo, o que restará é o fruto de uma busca franca pela qualidade na aquisição de um conhecimento sólido que nos ajudará e àqueles com os quais dividiremos esse conhecimento.
      Outro detalhe significativo da obra é a utilização de três elementos que aproximam a autora do leitor. As imagens que refletem de um modo bem-humorado e sagaz a descrição de cada capítulo, deixando a leitura mais suave de forma a, também, entreter o leitor. As citações que nos motivam a refletir e elevando nossa determinação acerca do que vamos fazer. Por fim as passagens às quais ela narra momentos de sua vivência acadêmica dão um caráter mais intimista à obra aproximando mais a autora de seu publico alvo.

     De modo geral o livro “abre os olhos” do leitor no que se refere ao desenvolvimento da dissertação. Fazendo-nos esquecer do medo do desconhecido e nos “empurrando” para um caminho que, apesar de longo, nos trará grandes realizações futuras. Não só na vida acadêmica, como também em realizações posteriores.

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¹ Eliane Vieira é doutora em Engenharia Mecânica pela Unicamp e pós-doutorado em criatividade e processos de autodesenvolvimento pelo Saybrook Institute, San Francisco, CA.

Resenha feita pelas alunas no IV semestre do curso, na disciplina de Laboratório de Escrita e Produção Textual II, ministrada pelo Prof. Ms. Fco. Edmar Cialdine Arruda para obtenção de nota.

PAUSE! .... para um comentário

FOCO INFORMA...


     Durante esse semestre, na Universidade Regional do Cariri, está ocorrendo o SEL - Seminário de Estudos da Linguagem. Professores de todos os tipos, que possuem trabalhos voltados para a linguagem em todas as suas vertentes, exibem suas pesquisas semanalmente para os alunos devidamente inscritos, no aclamado Salão de Atos da URCA, no campus do Pimenta, Crato - CE.
   Alunos de toda a LETRAS compareceram para assistir a 2° conferência. Os organizadores informam que a previsão para este semestre serão ao todo de oito conferências, cada qual com um professor apresentando suas pesquisas, sejam elas de mestrado, doutorado, pós-doc, extensão, iniciação científica e o que tiver pelo meio. Naturalmente você deve estar se perguntando porque não há a primeira apresentação. Sinto em lhes informar que no dia em que ocorreu a primeira o blog não existia e eu, infelizmente, não estava lá.
   Mas diálogos a parte, voltemos ao que interessa: na manhã de hoje, das 10h até as 12h, a professora Cristiane Rodrigues apresentou seu trabalho intitulado "Estudos de Interlíngua". Aqui segue a rápida apresentação conferida ao blog CIALDINEARRUDA:


"Nesta fala, pretendo apresentar a Teoria da Interlíngua (Selinker, 1972) e suas contribuições para o ensino-aprendizagem de inglês como língua estrangeira ao longo destas quatro décadas. Para tanto, apresentarei sua gênese na Análise Contrastiva Experimental (Selinker, 1969), na Análise Contrastiva Clássica (Fries, 1945 e Lado, 1957) e na Análise de Erros (Corder, 1974). Os dados apresentados foram coletados em minha pesquisa de mestrado e em um projeto de pesquisa que desenvolvi com alunos do curso de Letras da Universidade Regional do Cariri."

Para todos os meios e fins, seguem as imagens do evento (Fotos de Nona Ay e D. Almeida).


















Não posso deixar de mencionar a ilustríssima presença de outros professores, que foram assistir a colega, bem como ajudar nos básicos esclarecimentos que sempre ocorrem no momento das perguntas. Aqui me refiro ao Prof. Raimundo Luiz em sua fala sobre Vícios de Linguagem,  como também a Prof. Sandra e o Prof. Edmar. (Aquela realmente foi uma pergunta pertinente, se me permitem dizer).
Prof. Thiago Gil e Prof(a). Sandra Espínola

Prof. Edmar Cialdine , Prof(a). Sandra Espinola e Prof(a). Cristiane Rodrigues

Prof. Raimundo Luiz

Prof. Edmar Cialdine
No dia 05/04, era uma sexta-feira, o prof. Newton Pontes conferenciou no Salão de Atos, apresentando sua pesquisa intitulada "Teoria do Conto", das 17h às 19h. (fonte: cialdinearruda.blogspot.com).


Fiquem atentos! A qualquer momento a gente vai dar um PAUSE.... para um comentário.

por NONA Ay

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Mais uma da série: "Mais um pouco de Linguística". (PARTE 4).

A seguir, a última parte do artigo sobre a "História da Linguística", com mais um cientista linguísta para vocês se debruçarem a respeito de sua história e seus estudos.

por DOM.

ROMAN JAKOBSON(por Paulo Ruam Aquino DA SILVA).

Nasceu em Moscou, em 1896. Estudou línguas orientais em Moscou. Fundou o Círculo Língüístico de Moscou, que se atribuía, entre outras, como tarefa, a Poética, a Análise do Verso. Isso põe Jakobson em contato com grandes poetas russos e lança as bases do que se chamou o formalismo russo. Jakobson deixou a Rússia em 1920, mesmo ano que Trubetzkoy, quando começaram longa correspondência. Jakobson foi conselheiro cultural em Praga, onde apresentou sua Tese de Doutorado, em 1930. Participou do Círculo Lingüístico de Praga, do Congresso Internacional de Lingüística e de Fonética. Em 1939, refugiou-se na Escandinávia por ser israelita. Daí passou aos EEUU, em 1941. Lecionou em Nova Iorque, onde fundou também um Círculo Lingüístico. Lecionou em outras universidades americanas. Sua obra é vasta e multiforme; até 1939, quase só tratou de literatura e poesia. A parte mais importante de sua obra é a que trata de fonologia: considera a linguagem infantil, a afasia, as afinidades fonológicas entre as línguas. Não produziu nenhuma obra teórica volumosa que apresentasse toda sua doutrina. É brilhante nos colóquios e congressos, nas colocações provisórias, sempre nas fronteiras da antropologia e da patologia da linguagem, da estilística e do folclore. É o homem das colaborações. Em suas primeiras obras de fonologia, parte do verso eslavo ( tcheco ou russo ) para chegar ao conceito de fonema. Já nos EEUU, com Fant e Halle, libera outra tendências. Sonha, com Einstein, em dar ao mundo uma “relatividade lingüística”. Reduz as oposições fonológicas a 12: vogais/não-vogais, consoante/não-consoante, nasal/oral etc. Às objeções, responde dizendo ser uma cômoda tabela de trabalho. Foi pioneiro em fonologia diacrônica, já que Saussure, aparentemente ao menos, renuncia a aplicar a noção de sistema à diacronia. Para Jakobson, as mudanças lingüísticas visam, muitas vezes, o sistema, sua estabilização, sua reconstrução. Assim, o estudo diacrônico não exclui as noções de sistema e função. No estudo da afasia, lançou a teoria de que há duas formas: a perda do poder de seleção (confusão paradigmática). Essa classificação, simples demais, não preenche o hiato entre as diversas formas de afasia. Jakobson é famoso pelas seis funções que apontou para a linguagem:

1.                              Referencial
2.                              Emotiva
3.                              Conativa
4.                              Poética
5.                              Fática
6.                              Metalingüística


                         Não esgota o problema da totalidade de usos da língua. Jakobson o sabe e diz que as seis funções mascaram a função de comunicação, que é a única da língua. O que se chamam funções são os usos particulares da língua que podem estar mais ou menos presentes em cada comunicação No campo da morfologia procurou no estudo do sistema dos casos em russo, descobrir um valor semântico para cada caso, assim como para as categorias gramaticais. Em fonologia mostrou serem as variações de cada fonema condicionadas pelo ambiente fônico em que ocorrem e não isoladamente, como dizem os neogramáticos. Estabeleceu ser o fonema um feixe de traços distintivos (com o Círculo Lingüístico de Praga). A estilística ou a poética são uma uma das suas preocupações mais profundas. Devemos situá-la no Formalismo Russo, que considera desde as recorrências fônicas até os gêneros literários. “A palavra se basta a si mesma, é o único grande herói da literatura”. (1920) Este movimento só se compreende em relação à postura anterior da crítica literária russa, que era cívica . Celebrava os romances de Dumas que mostravam as torpezas da vida nas cortes. Jakobson teoriza em 1960: “a função poética projeta o princípio da prevalência do eixo da seleção sobre o eixo da combinação”. A função poética constrói uma cadeia de sons, formas, sentidos que geralmente não estão associados ao sistema. A poesia na Rússia esteve, até pouco tempo, ligada às formas fixas. Por ser um povo analfabeto, o transmissão oral era o canal de circulação poética. Apesar de seus conhecimentos antropológicos, nunca se deteve na gênese da poesia, originalmente a via de conservação e de transmissão oral de todo saber. Sua teoria da função poética explica melhor um slogan (I like Ike) que um poema de Baudelaire. Jakobson tinha ainda a tendência de reduzir os problemas a oposição de dois termos, sacrificando a complexidade dos fatos. Mesmo em literatura ele reduz todo discurso a dois procedimentos: metáfora e metonímia (similaridade e contigüidade). Foi mais sincrético que sintético, mais explorador que verificador.

Leia mais:
MOUNIN, Georges. La linguistique du XXe  siècle. Presses Universitaires de France, s/l: 1972.

ROBINS, R. C. Pequena história da lingüística. Rio: Ao Livro Técnico, 1983 ). 

FIM.


Mais uma da série:"Mais um pouco de Linguística". (PARTE 3)

Em seguida, a terceira parte do artigo sobre "História da Linguística".


por DOM.

EDWARD SAPIR - 1884-1939(por Paulo Ruam Aquino DA SILVA).

 Nasceu em Lauemburg, Alemanha. Estudou em Nova Iorque e em Columbia. Dirigiu o Departamento de Antropologia do Museu de Otawa. Foi discípulo de Franz Boas. Estudou línguas ameríndias. Lecionou antropologia e lingüística na Universidade de Chicago e de Yale. Celebrava Croce, por estranho que pareça. Conhecia música, era leitor de Freud e de Jung. Fora seus estudos de línguas ameríndias, foi conhecido como autor de uma só obra: Language. ( N. Iorque, 1921 ). Surgiu na época em que a lingüística atingia sua independência e formou muitos discípulos. Sapir chegou a noção da existência dos fonemas, independentemente de Saussure. Acentua a diferença entre o que o locutor enuncia e o que crê enunciar (fonética e fonologia), as variantes livres e combinatórias e os traços pertinentes e não pertinentes a cada fonema. Em Language, dá o papel principal à forma, mas define forma em relação às estruturas gramaticais.: ordem das palavras, afixação, composição, alternância vocálica ou consonantal, reduplicação, acento tônico. Ele está consciente da relação entre forma e função entre as quais quase nunca há correspondência unívoca. “O sistema [das formas] é uma coisa e a utilização do sistema (a função) é outra”. (Language, p.59 ) Para Sapir, a função preside a forma e a precede.
Função – ter alguma coisa a dizer.
Forma – maneira de o dizer.
A lingüística é o estudo da forma, que pode e deve ser estudada enquanto sistema, fazendo abstração das funções que a ele se prendem. Vê-se aí influência do positivismo e do pragmatismo reinantes na época. Mas há também influência de Humboldt, através de Boas, mestre de Sapir, no que se refere a innere Sprachform (sistema interior ideal). Sapir fala em “tendência inerente”, “plano determinado”, “forma determinada” (Language, p. 60,61). Sapir marcou sua época no domínio da tipologia, isto é, na classificação das línguas, independente do critério genético e geográfico, em contraste com a gramática comparada indo-européia ou semítica. Sua classificação é bem complexa e é esse seu mérito (línguas isolantes, fracamente sintéticas, sintéticas, polissintéticas etc ). Elaborou também uma explicação geral da evolução das línguas mais soft. Fala em “deriva lingüística”. Em mais um ponto, Sapir foi notável: quando fala que toda língua revela uma análise do mundo exterior que lhe é específico, impõe ao falante uma maneira de ver e interpretar esse mundo, é um prisma, através do qual ele está limitado a ver o que vê. Essa tese já aparece em Whorf e em Humboldt, levada à América por Boas, que insiste na necessidade de relacionar língua e cultura. Para Sapir, a linguagem é um guia da “realidade social”. O mundo real é em grande parte fundado sobre os hábitos lingüísticos do grupo. Cada comunidade vive num mundo distinto e não no mesmo mundo com etiquetas distintas (nada a ver com raça). Sapir mostra também a dificuldade de o indivíduo expressar sua experiência, sua vivência ao grupo. Aqui entrará a linguagem poética ou literária. “Quando esta representação simbólica do pensamento, que é a linguagem toma uma forma mais finamente expressiva que de costume, nós a chamamos literatura”. (Language, p. 216) Foi grande a influência de Sapir na língua norte-americana, com poucos pontos de contato com Bloomfield. Conheceram-se, respeitaram-se, mas não eram amigos nem colaboradores.

CONTINUA... 

Mais uma da série: "Mais um pouco de Linguística". (PARTE 2).


Olá amig@s,


a seguir, a segunda parte do artigo sobre a "História da Linguística", que prometi postar para vocês. Boa pesquisa e bons estudos!

por DOM.


LEONARD BLOOMFIELD(por Paulo Ruam Aquino DA SILVA).


            Nasceu em Chicago, em 1887. Lecionou alemão, lingüística e gramática comparada em diversas universidades americanas. Morreu em 1947. Em 1924-1925, convocou a sociedade americana de lingüística, ato que separou os professores de lingüística dos professores de língua. Participou com seus discípulos do programa de preparação lingüística para os combatentes no Pacífico em 1941. Redigiu manuais de holandês, de russo e de alemão, assim como um manual de alfabetização, em 1940. Era tão eficiente na teoria como na prática. Foi sanscritista, bebeu nas fontes de Pânini. Publicou estudos sobre línguas malaio-polinésias e considerava, como outros lingüistas americanos, as línguas ameríndias. Falou da reconstituição de uma proto-língua, num domínio sem tradição escrita. Na lingüística geral, escreveu um só livro: Language. Sua 1a  edição foi em 1914, após estada na Alemanha. Em 1933, sai uma versão atualizada, com mudança de perspectiva. O 1o  texto quase não é mais lido. À acusação de anti-mentalista, respondeu: “O lingüista se ocupa unicamente de sinais lingüísticos. Ele não é competente para se ocupar de problemas de fisiologia ou de neurologia” (Language, 1935, p. 35). Ele rechaça os postulados segundo os quais, anteriormente à emissão dos sinais lingüísticos, produz-se no locutor um processo não físico, um pensamento, um conceito, uma imagem, um ato de vontade etc. “Uma [tal] terminologia ... de um lado não se faz nenhum bem, de outro lado faz muito mal em lingüística” (op. cit., p. 27). Trata-se, para ele, de descrever a comunicação lingüística a partir de seus observáveis, como o faria “um observador vindo de outro planeta” (p. 29). “A única evidência desses processos mentais é o processo lingüístico: eles não acrescentam nada a discussão, só servem para obscurecê-la” (p. 22). A negação de Bloomfield à psicologia é uma questão metodológica. Seu behaviourismo, necessário na sua época, são uma higiene científica. O trabalho interdisciplinar só pode ser produtivo se cada disciplina empresta à outra seus dados concretos, não seus pontos frágeis. Ao lado dessa posição fácil de defender, Bloomfield lança, às vezes, fórmulas mecanicistas, compreensivelmente provocantes na época. Mas sua teoria não é simplista, como fazem parecer alguns de seus seguidores.
            Quanto ao fonema, há intercompreensão entre Bloomfield e os de Praga. Bloomfield isola os fonemas por comutação, os opõe por traços distintivos, mas prefere definí-los por sua distribuição na cadeia. No plano das unidades significativas, Bloomfield aplica a comutação, para destacar o que ele chama morfemas ou alomorfes. Sua sintaxe é original na medida em que ele tenta inventariar algumas possibilidades universais de construir o sentido de uma frase a partir de seus morfemas:
1o  - por modulação _ Você vem ( ? ) ( ! )
2o  - por alternância fonética _ goose/geese; sing/sang
3o - por ordenação _ O capitão não sabe que perigo o soldado espera / espera o soldado.
4o- por seleção _ enunciados semelhantes, com mesma modulação, ao mesmo destinatário têm sentidos diferentes: Man! Jump! ( vocativo/comando ).

Em semântica, faz observações muito justas como: “para dar uma definição cientificamente exata de cada forma da língua, precisaríamos possuir um saber cientificamente exato de tudo que forma o universo do locutor” (p. 132). Novamente, seus seguidores petrificaram suas idéias, dizendo ser a descrição semântica impossível em lingüística. Sua definição de forma lingüística é famosa: “é a situação na qual o locutor a enuncia e a resposta que ela provoca da parte do ouvinte”. (p. 132). Essa é a maneira de a criança aprender a falar. “O estudo dos sons do discurso sem consideração de suas significações é uma abstração” (p. 132). Essa frase devolve os direitos à semântica. Na conclusão de Language, Bloomfield trata do purismo gramatical, com uma severidade fundada no arraigamento deste na discriminação sociológica; do ensino da gramática na escola; da ortografia inglesa e de seu custo intelectual desastroso; do ensino de línguas vivas; de estenografias; da possibilidade de uma língua universal. À pesquisa fundamental soma a lingüística aplicada, se não for precedida de estudos lingüísticos dos problemas. Bloomfield, com Boas e Sapir, formaram vários lingüistas americanos. Na Europa teve menos êxito No período bloomfieldiano, a lingüística se afirmou como disciplina autônoma. Bloomfield centrou sua atenção na descrição formal por meio de operações e conceitos suscetíveis de descrição objetiva. (morfema ou alomorfe zero? ) A partir de Bloomfield, admitiu-se a existência do fonema suprassegmental (duração, intensidade e altura). A entonação foi tratada como um fonema que recai sobre diversas sílabas, sendo a linha melódica da frase constituída de uma série de fonemas de diferentes alturas. Bloomfield seguiu os passos dos neogramáticos quando declarou que os motivos que determinam a mudança sonora são desconhecidos(p. 385). 

CONTINUA...